Eduardo Mahon
43, é carioca da gema, advogado e escritor. Mora em Cuiabá com a esposa Clarisse Mahon, onde passa sufoco com seus trigêmeos: José Geraldo, João Gabriel e Eduardo Jorge. Autor de livros de poemas, contos e romances, publica pela Editora Carlini e Caniato.
CIMENTO AMADO
Ah, como eu queria mais cidade na minha cidade
Como eu queria mais asfalto, mais fumaça, mais barulho
Abrir a janela e ouvir os gritos de pânico da ambulância
Anunciando que alguém morre e urge celebrar a vida
Ah, como eu queria mais cidade na minha cidade
Os berros da vizinha que não suporta crianças no edifício
O pingado servido no imundo balcão de fórmica azul
Que exala o cheiro dos mendigos embriagados desde cedo
Ah, como eu queria mais cidade na minha cidade
As florestas de concreto e vidro interditando o horizonte
Os pelotões de motoqueiros que avança no flanco dos automóveis
E levam consigo os retrovisores que só enxergam o passado
Se houvesse mais cidade na minha cidade
Eu caçaria anônimo pelo safari de concreto frio
Leria um romance alemão durante os engarrafamentos
E faria do decadente cinema pornô a minha segunda casa
Vem, cimento amado!
Apaga essa modorra da minha urbe desalmada
Varre o chão de terra, a mata torta, o barranco improvisado
Põe mais futuro nessa cidade abortada