Eduardo Mahon
42, é carioca da gema, advogado e escritor. Mora em Cuiabá com a esposa Clarisse Mahon, onde passa sufoco com seus trigêmeos: José Geraldo, João Gabriel e Eduardo Jorge. Autor de livros de poemas, contos e romances, publica pela Editora Carlini e Caniato.
EXPERIMENTALISMO
Saia do seu conforto
De burguês solidário
Abaixe a bandeira de bom moço
E encha a barriga dos pobres que te inspiram
A sua poesia não os anima
A sua poesia não os conforta
A sua poesia não os sustenta
São duas horas da manhã:
Enquanto sua poesia é ruminada
No piquenique de notívago
Quem tem fome não dorme
Porque engana o estômago oco
Fumando a pedra de crack
Bebendo a cachaça barata
Gozando na mendiga jovem
A miséria não cabe no poema
A sujeira não cabe no poema
Porque o poeta toma banho
Troca de roupa todos os dias
Vai ao dentista tratar da cárie
Experimente a ruptura verdadeira
Dê comida aos pobres
Sente-se com eles
Suje-se também
Para então, somente então
Experimentar uma nova poesia.
NATAL
De máscara, uma linda madame
Entrega o embrulho morno
Nas mãos do mendigo
Curioso com o brilho dos anéis
Que discretamente furam a luva opaca
O mendigo pergunta:
– É Natal?