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Eduardo Mahon

Editor Geral

EDITORIAL

Esse mês, a Revista Pixé circula novamente com dois números. Decidimos fazer um único editorial. Que os leitores não acreditem tratar-se de preguiça do Editor. A estratégia é deliberada. Selecionamos os artistas Waldomiro de Deus e Jéssica Traven. Ele, experiente artista popular baiano a ilustrar uma revista nascida no centro geodésico da América do Sul e ela, jovem cuiabana dedicada à aquarela, convidada para participar de uma edição especial de brasileiros que moram no exterior. O que isso significa? É o samba do crioulo doido? Como sabemos que nada surge sem propósito, temos muito o que dizer com a arte e com a literatura presente nesses números. 


Ao completarmos nosso primeiro ano, a Revista Pixé não tem um programa estético definido. Não lançamos manifestos. A ausência de manifesto pode ser tomada como uma forma de programa, plataforma, manifesto. Estranho, não? As vanguardas modernas nos ensinaram alguma coisa: em todas as posturas que proclamam o novo, há uma semente autoritária. Essa obsessão pela superação do passado tornou-se paranoica. Até o limiar do século XXI, importante era negar, romper, desafiar. Inevitavelmente, os vanguardistas estabeleceram a sua própria cartilha estética, prontos para o ulterior desafio, uma espécie de autofagia psicótica. O que os jovens revolucionários não desconfiavam é que o conservadorismo é um instintivo de sobrevivência.


A Revista Pixé não tem pauta! O ecletismo é a força do contemporâneo e seremos significativos na medida em que nos solidarizamos com a diversidade. A eleição da obra de Waldomiro de Deus é uma das afirmações que buscamos. Por quê? A arte popular foi varrida pela erudição moderna, rejeitados nas galerias em grande parte do século passado. O naif foi acusado de não ter futuro, compromisso inovador, experimentação técnica, profissionalização artística. O artesanal passou a ser uma arte de segunda categoria, preterido pelas outras tendências, cada qual encastelada na arrogância de varrer a tradição para debaixo do tapete. É passado! – acusavam os autoproclamados modernistas. Curiosamente, o que há de mais atual é o artesanal na xilogravura, na litogravura e na street art do grafite.


Geração após geração, sucediam-se revoluções estéticas até se estabelecer uma tradição de vanguarda tão manjada quanto conservadora. Como deve se posicionar uma publicação contemporânea como a Pixé? Nossa única certeza é não ter ostentar nenhuma certeza. Essa postura não é dúbia, não é covarde, não é abstencionista. É apenas um modo de ver a realidade. O que nos importa mais é criar uma grande tribo do que pontificar um estilo único. Preservar a diversidade é assumir uma postura não-autoritária. Portanto, o experiente artista popular baiano tem o mesmo espaço da jovem artista cuiabana, uns escrevendo do centro e outros escrevendo de fora do país. Tampouco buscamos o que seja “a brasilidade” porque a imagem convergente, monolítica, idealizada de um só Brasil não nos ilude. 


Quando escritores dizem que são “pós-modernos” não deixam de seguir a cartilha da modernidade a fim de estabelecer essa classificação: uma lógica linear e progressista de superação do passado pelo presente, pressionando o futuro com as mesmas paranoias de sempre. Somos pós-nada. Estamos vivos e mergulhados na essência humana mas num tempo circunstancial, onde as fronteiras viraram convenções e a realidade é suprarreal. Queremos as idiossincrasias de uma comunidade tribal, com índios, pajés e caciques, unidos em cerimônias de afetividade. A Revista Literária Pixé coloca-se dessa forma por saber que a ética da tribo: o passado não é pior do que o presente e que o futuro não será necessariamente melhor. Talvez seja esse o nosso manifesto. Talvez...

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