Edir Pina de Barros
É membro da Academia Brasileira de Sonetistas e da Academia Virtual de Poetas de Língua Portuguesa. Seus poemas estão disponíveis em vários livros, antologias, revistas eletrônicas e nas mídias sociais. É doutora e pós-doutora em Antropologia pela USP, professora aposentada (UFMT). Nasceu no Mato Grosso do Sul e hoje reside em Brasília.
LUXÚRIA
O teu olhar, que assim me finca as unhas,
com fogo e com venenos de Quimera,
escavam, dentro em mim, funda cratera,
igual as pontas finas de mil cunhas.
Mais finas do que os pelos das vicunhas,
de forma que, jamais, se pensa ou espera,
perfuram minha tez em primavera,
quais bicos das araras nas pupunhas.
Ninguém escapa, não, de tal sangria,
das unhas afiadas do desejo,
mais fortes do que as garras de uma harpia.
Ai! Quando o teu olhar, assim, me espia,
esgarço os frágeis véus do tolo pejo,
e cravo em tua carne uma poesia.
INFERNO E PARAÍSO
De tanto procurar-te ando perdida,
nem vejo mais o teu formoso rosto,
pisando pedras, farpas, por suposto,
perambulando ao léu, sem ter guarida.
Buscar-te sempre além – a minha lida –
a saga que o destino tem me imposto,
peregrinar tão só, de agosto a agosto,
sentindo uma saudade desmedida.
E todos me perguntam por que andejo
se perambulo tanto e não te vejo,
nem vejo, nunca, a luz de teu sorriso.
Respondo então que amar é mesmo assim,
é mel e fel, princípio, meio e fim,
é luz e breu, inferno e paraíso.