Edir Pina de Barros
É membro da Academia Brasileira de Sonetistas e da Academia Virtual de Poetas de Língua Portuguesa. Participa do livro 80 Balas, 80 Poemas (versão virtual, Zunái, 2.020, Org. Claudio Daniel) e das coletâneas Poesia em tempos de barbárie e A noite dentro da Ostra (Lumme Editor, ambas 2.019, Org. Claudio Daniel). Seus poemas estão disponíveis em mais de dez livros e em revistas eletrônicas (Ruído Manifesto, Portal Vermelho, Quatetê, Ser MulherArte e outras). É doutora e pós-doutora em Antropologia pela USP, professora aposentada (UFMT). Seu livro, Os Filhos do Sol (EDUSP, 2.003), foi indicado ao Prêmio Jabuti 2004 pela Universidade de São Paulo. Nasceu no Mato Grosso do Sul e hoje reside em Brasília.
VOZES ANCESTRAIS
Compreender, de fato, os sons externos,
que chegam, tão confusos, aos ouvidos,
exige, sim, buscar nos tempos idos,
as fontes dos conflitos, os modernos.
Memória registrou, nos seus cadernos,
com sangue, que escorreu dos desvalidos,
mas que lutaram firmes, destemidos,
as crônicas dos povos subalternos.
Escuta, que o silêncio alto fala
das coisas, que no colo, o tempo embala,
e está em tantos mitos e locais.
As vozes ancestrais, portanto, escuta,
atento às mil raízes da disputa
fincadas desde os tempos coloniais.
CICLOS
(Aos Bakairi, dedico)
Acorda
A brisa da madrugada
já brinca com as relvas
e os pássaros pipilam
anunciando o novo dia...
Acorda
A canoa já está no porto
o rio nos espera agora
a espreguiçar suas águas
no leito rendado de areia.
Acorda
As capivaras e as pacas
vão devorar todo o milho
plantado para o batizado
e não haverá mais festa...
Acorda
Sem batizar o milho
não haverá fartura
e um novo e longo eclipse
abraçará nossas vidas...
Acorda
E escuta a delicada brisa
que murmura em segredo
os cânticos sagrados
das vozes ancestrais...
Acorda
Ou eterno será o sono
no poço fundo do tempo
onde moram agonias
da escuridão dos inícios...
Acorda