Duan Kissonde (1993)
É poeta, estudante de história na UFRGS e pesquisador das territorialidades negras na cidade de Porto Alegre. Como poeta participou das antologias; Pretessência (2016), Antologia Literária Jovem Afro (2017), Cadernos Negros 41 (2018), Revista Ovo da Ema (2018), Coletânea Ancestralidades (2019) e do Dossiê: Poesia Hoje Negra (2021) realização do p_o_e_s_i_a_.org com curadoria do poeta Ricardo Aleixo. Água de Meninos, publicado pela Editora Taverna em 2020 é seu primeiro livro solo. Kissonde já realizou incursões por diversos campos da arte, tendo atuado em parceria com artistas como Charlene Bicalho, Cláudia Paim (in memoriam), Elida Tessler, Felipe Merker Castellani e Santiago Pooter. Também já escreveu sobre performance para o jornal Sul 21 e para a revista Contemporary And América Latina C&; América Latina.
Um lance de barcos
Diásporas dispersas
sobre a página em branco
Um lance de dados
jamais abolirá
o banzo.
SONATA PARA URUCUNGO
Alguns,
negros e brancos
não riem das mesmas coisas.
Podem até ouvir a mesma música
Mas quase sempre, não escutam o mesmo
song.
Para alguns negros
um piano não é apenas um piano.
“Veja, isto é sonhar”,
Duke Ellington, dixit, (
Aprendi c/ R.A)
é como se fosse um
órgão
do próprio corpo! – extensão
da mão.
Por consequência, sendo assim, dito isto,
desta forma:
Um sax ou um trompete – o próprio pulmão.
Pixinguinha encantou
toda sorte de peixes
com um ferro de Ogum.
Outro filho dileto, Coltrane
A guitarra de Hendrix era ligada
Numa simples tomada de luz.
Como explicar Billie Holiday singrando
os mares turbulentos das ondas sonoras?
Macumba
livre como uma abelha,
mais leve do que o próprio vento que a sustenta?
Fogo
negra angela
walking miles davis
Four hundred yEARs –
para dizer na sua lata
que o blues não nasceu na escravidão.
E o que dizer do samba urbano
mau elemento
nascido nos fundos
de uma casa
sem nenhuma “alta” cultura?
Eu chamarei de
Ciência
a todos estes oráculos?