

Daisy Serena (São Paulo, 1988).
É artista visual e escritora com estudos em Sociologia e Política na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Autora de Tautologias (poesia, Padê Editorial, 2016). Tem poemas publicados em revistas digitais como Escamandro e Chão da Feira. Como artista visual teve sua estreia solo com a exposição: Tecituras de Tempo & Identidade (Mostra de Criadoras em Moda: Mulheres Afro-latinas, no Sesc Interlagos, 2016). Também participou das exposições coletivas FotoPreta (2018 e 2020) com curadoria do coletivo Afrotometria. Tem obras de diferentes linguagens visuais publicadas em revistas digitais como Menelick 2º Ato, Garupa e Doek! (Namíbia).
meu coração é alma velha
galopando a favor
dos ventos
sabe pedir licença
meu coração arrebatado
nem percebe todo concreto
arrebentando meio à selva
tudo que ele vê são partes
membros, peles, organelas
embrenhados no mais
fundo matagal
ele acha bonita essa
dança
meu coração num faz
sístole-e-diástole
pa nenhum cativeiro
(nem para os que
eu invento)
é sussurro líquido
feito sol ascendido na boca
d'um peixe tucunaré
é dado às lições trazidas
no fluxo dos plexos
me ensinou num breve
desbatimento a permanecer
onde tem início a correnteza
Cavalos
cavalo alado não se olha os dentes
se fareja o rasto
cê também sente o cheiro dos cascos
se desprendendo de uma flamboyant?
tem pé de romã também no quintal.
sempre que penso no seu contrário
não penso em amor, penso em poncã,
alguma espécie de palavra
ou fruta semelhante
dislexias e outras neologias
me interessam como fossem
política anticolonial da língua.
e todo idioma inventado me habita
como eu vestisse as crinas de
uma existência indomável.
Trópicos
Para A.
que sabe que as diásporas
sempre dão jeito de se encontrar.
é primavera
no trópico,
(cê vem?)
eu invento uma balsa,
pedaço de signo sem
naufrágio, cavalo alado,
amanhã-pássaro
sankofa é também
gesto síntese
assoprando quente
a direção.
é que
toda diáspora
merece
um encontro.
e todo encontro
é um pouco
coração-oceano
saudade
entrecortada pelas
constelações
hemisferiais
de câncer ao
capricórnio
tropical
do norte ao mais
esquecido sur,
onde magia
é tecnologia
de folhagem
nos corpos bantus
onde nossas peles
já estão sendo
beijadas pelo verão