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Anna Maria Ribeiro Costa

É doutora em História pela UFPE e Professora do Univag. Chegou às terras do povo indígena Nambiquara na Primavera de 1982. Dos índios recebeu o nome Alusu, por conta de seus hábitos alimentares. Nessas terras, conheceu José Eduardo, com quem tem dois filhos: Theo e Loyuá. Vem se dedicando aos estudos sobre os povos indígenas de Mato Grosso, com especial atenção ao Nambiquara.

O VELHO LOUCO​

Uma expedição de caça, composta exclusivamente por homens, deixou a aldeia, permanecendo apenas dois velhos irmãos, ambos do sexo masculino, junto às mulheres e crianças. Um dos irmãos, queixoso, demonstrou sua insatisfação por não ter sido chamado ao trabalho. Seu irmão justificou a atitude dos caçadores por serem velhos e ele, especialmente, por estar sempre doente. Inconformado, vociferou: “Não posso ficar em casa! Vem bicho!”, bradou ao irmão.
Aquela conversa não tinha fim. Até que tomaram uma decisão: saíram à caça. No caminho, encontraram uma colmeia da abelha manduri, grande produtora de mel. Ainda que tenham se esbaldado com o melado, o irmão doente, de ranzinzice, não aceitava o nome da abelha – sisu – e a chamava de tyealisu. E por mais que seu irmão explicasse que não era tyealisu, mais ele teimava. Sem chegarem a um acordo, continuaram a caminhada pela trilha.
No caminho, outra espécie de abelha foi encontrada: arapuã. E os dos irmão se deliciaram com o sabor do mel, mas novamente discordaram em relação ao nome da espécie do inseto. Continuaram a andar até que uma colmeia da abelha borá-cavalo foi avistada por eles. Ainda que seu mel seja azedo, se fartaram do caldo. Quanto ao nome da abelha, mais discordância por parte do irmão doente que já começava a demonstrar agressividade. Ele mudava o nome de todas as espécies de abelha e justificava pertencer a outro povo.
No percurso, mais outra colmeia da vespa enxu, muito confundida com abelha por também produzir uma geleia doce, semelhante ao mel de abelhas. E saciados com tanta guloseima, ainda discutiam o nome da espécie. O irmão doente, irritado, resolve voltar para a aldeia.    
Em silêncio, os dois seguiram para a aldeia. Por que o índio rabugento disse, repetidamente, pertencer a outro povo? Por que discordar dos nomes das espécies de abelhas? Em casa, junto à família, contou que seu irmão era louco.

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