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Lívia Bertges

(1987, Juiz de Fora – MG) é doutoranda em Estudos Literários (UFMT) com estágio sanduíche na Sorbonne Université (Paris, França). É mestra em Estudos Literários (UFMT) e em Langues et Cultures Etrangères (Université Stendhal). Publicou artigos e poemas em revistas, antologias e sites. É editora da revista literária Ruído Manifesto.

DESTERRO

Choro o grito.
Sussurro.
Os pés que não encostam no chão sonhado 
no alento desejado
no abrigo sem teto.

Grito no sussurro.
Choro:
As mãos que se prenderam 
nos caminhos da escuridão.
As famílias mutiladas e
recompostas ao acaso.

Choro, grito. 
Esbravejo:
A dor dos mortos
a cada trinta minutos por dia
em um país de minha língua,
A dor sem escolha,
a dor sem colo.
A dor sem abraço que cruza os carros,
estica as mãos nas filas.
A dor de corpos em lágrimas secas
sem livro a ler.

Grito:
- Até quando?
Consegue-se suportar?

O poema é um suporte? Ele suporta?
Talvez chore.
Chore lágrimas-letras.
Chore palavras-esteios.

Choro ao grito – choro ao grito
Esbravejo.
Choro em grito – grito em choro.
Desespero. Sussurro.

​​

LETARGIA

O cimo do nariz toca o pavimento.
Contornos brutos circundam unhas.
O tronco está estendido em superfície embebida.
Escorrego, passo.

Sinais, línguas, tocatas: dois, dez, vinte pés
passam, escorregam.
A paralisia vibra em ecos.

O golpe visual
no poste é vela incolor.
O golpe visual inala, gela, aspira
escorrega e passa.
Vira ofício do mundo
na esquina.

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