CENSURA LIVRE
Saíram de casa
Pelas ruas
Como era de costume
A terceira companhia
Amor
Recente
Sabe como é
Mãos dadas
Corações acelerados
Até doem
Nos peitos
Coragem
(B)ilateral
Os ditos normais comemoram
O júbilo da paixão
Em lábios e faces
Selos mornos
Sufocam íntimos desejos
Ali não
Entre mãos
Asfixiaram-se em beijos
E descontroles
(L)acivos
Beijos ardentes
Aquelas bocas
(Q)uentes
Inspiraram
Expiraram
(T)ranspiraram
Piraram
(G)ozaram
Santo Deus...
Mal sabiam
Que em volta
Pelas frestas estreitas
Tolas portas
Solitárias
Se riam
Sob o ranger
Das próprias parvas existências
Faiscavam fagulhas
De indelicadezas
Portas vazias e barulhentas
Laminas de fino corte
Assim permaneceram
Emputecidas
Estáticas
Mortas
Severa a obtusidade
Das portinholas
Mas quanto ao fecho
Da história
Enquanto se doem
Os imbecis
E vocês
Cá estão
Se esbaldando
Na narrativa
Dessa voyeur
Despudorada
Elxs
Ainda estão lá
No mesmo lugar
Asfixiando-se
Em chupadelas
Entre dentes, línguas
E glandes lábios
Juçara Naccioli
É graduada em Letras – Literatura e Especialista em Teoria e Prática da Língua Portuguesa, ambos pela Universidade Federal de Mato Grosso. Atua como professora de Linguagem há 23 anos. Poeta integrante do Coletivo Maria Taquara - Mulherio das Letras/MT e Coletivo Parágrafo Cerrado, pelo qual faz leituras de cenas de peças teatrais. Atriz. Professora de Oratória e expressão pessoal. Foi finalista do Prêmio Off Flip 2019 (poesia).
FLORADA
Minhas raízes são firmes
Seguras e de cheiro bom
Essência curadora,
Auto curativa.
Embrenham-se solo a dentro
À procura de vida
Suprema Guia
Supremacia
Meu tronco sinuoso tonificado
Não mais enverga, não quebra, nem cai.
Minha seiva hematoide,
Nutre minhas galhadas
Engrenhadas pela complexidade
Daquele que é ‘modelaDor’
E se fez senhor
Meus cachos cheirosos
Cachos de flores bonitas
Bagunçados e esvoaçados
Pelas tempestades necessárias
Das estações psíquicas
Tornaram-se resistentes
Depois uma vida pungente
Minha sombra frondosa
Em algum tempo ressequida
Agora sinala a risada
Propicia frescor
Respeita minhas lágrimas
Por ordem da vida
Ampara e devolve
Amor
Hoje será para sempre primavera.