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Rodrigo Maciel Meloni

Jornalista, ativista gay e estudioso da comunicação de massa, o escritor que já teve contos publicados em diversos blogs, sites mato-grossenses e nacionais, se aventura na publicação de seu livro de estreia: Coitado do homem cujos desejos dependem. Estudioso do underground cuiabano e aficionado pelas manifestações artísticas, já colaborou com diversos compositores de bandas do submundo cultural, assessorou festivais de cinema e exposições e colabora, sempre que pode, com a destruição do status quo.

FRAÜLEIN

-Ontem eu morri 13 vezes, minha irmã...
- Não conte seus sonhos, eles podem ouvir. Veja, estão todos com os dentes sedentos por um pedaço de sua pizza suada de costa a costa.
- Proteja-me.
- Protejo-te.
As duas irmãs, uma maratonista e uma fräulein, discutiam o sabor dos ventos, pisavam o mundo em pantufas de algodão doce e corriam pela única via asfaltada da pequena cidadela das 13 pessoas.
Mas uma delas tinha morrido?
Ninguém sabia ao certo, todos temiam uma resposta direta.
- Conte-me seus sonhos.
- Eles são côncavos.
- Devem ser lindos.
- São rendilhados, disso eu sei.
- Ontem eu sonhei com você 13 vezes, minha irmã. Caíamos de pernas cruzadas do 13º andar do único prédio em pé que se fazia ver naquela cidadela...
- Quem nos acompanhava?
- Éramos só nos dois.
- Caíamos com elegância?
- Imagino que sim. Você ainda sente as dores?
- Sinto os sabores.
Reminiscências estão sempre a acompanhar àqueles que se atrevem a sonhar com os olhos abertos. Aquele que quer um pouco mais do que o céu, a terra e a alma... aquele que almeja o sucesso... aquele...

FADE

- Você me contou segredos durante o sono?
- Te contei amenidades. Coisas sobre árvores ululantes, montanhas mágicas pensadas por Mann, coisas poucas...
- Promete me proteger da pomba estúpida que vive a sujar nossos poleiros?
- Dela e de seu criador, aquele velho ranzinza que vive a derrubar aviões e a criar desastres para que os ignorantes acreditem nele.
- Graças a natureza eu acredito nas suas promessas.
- Beije-me a palma da testa.
- Beijo-te a alma, minha grande irmã.
As duas irmãs se davam as mãos porque eram duas irmãs. Se fossem três, a natureza as espancaria. Três irmãs nunca devem andar de mãos dadas. É a lei.
- Percebes que somos agora 12, antes 13?
- O que o futuro nos reserva?
- Uma quiromante, penso eu.
- Minha alma está um tanto seca, penso em parir uma cachoeira.
- Peçamos a mamãe permissão?
- Mamãe está morta. Mamãe morreu. Mamãe é um cadáver de útero seco.
- Ainda bem que temos um pai, ou não temos?
- Não sejas otimista...
O otimismo tirou-lhes as lentes e os tímpanos. 
Só lhes sobraram a distância da pomba estúpida, que nem pomba era, era um artifício religioso.
Fräulein e maratona eram felizes. Comiam pizza, caíam de pernas cruzadas, atiravam em pombas da paz e tinham a mãe morta e o pai ausente.

Desta vez elas dormiram felizes, e puderam sonhar seus sonhos côncavos.
 

O OPOSTO DO CONTRÁRIO

Às vezes minto tanto que chego a dizer verdades.
Mas não se engane: quando falo verdades, minto melhor ainda. 
Troco de corpo sem sair de dentro do que me foi dado pelo cosmo.
Chamo pai de mãe, e mãe de papaya.
Tropeço no ar, e faço fita com pássaros imaginários (eles também são uma mentira leve e pesada, depende do bater das asas).
Como mentiras bavarosie, despejo verdades chantilly.
Mentiras e verdades, o que são senão a mesma coisa, dita e redita por poetas e cientistas séculos após séculos?
Só para constar: esse texto é uma grande mentira. Dessas que foi escrita de verdade.

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