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Matheus Guménin Barreto 

(1992) é poeta e tradutor mato-grossense. Doutorando da Universidade de São Paulo (USP) na área de Língua e Literatura Alemãs - subárea tradução, estudou também na Universidade de Heidelberg. Publicou traduções de Bertolt Brecht e Ingeborg Bachmann. Encontram-se poemas seus no Brasil e em Portugal, e integrou o Printemps Littéraire Brésilien 2018 na França e na Bélgica a convite da Universidade Sorbonne. É autor dos livros de poemas A máquina de carregar nadas (7Letras, 2017) e Poemas em torno do chão & Primeiros poemas (Carlini & Caniato, 2018 – coleção Olho d’água).

TRÊS POEMAS DA SÉRIE "DEUS IN MACHINA"

[Sem título]
intuir sua inexistência
nos gestos do irmão e do inimigo
igualmente
sua inexistência intuir na sombra entre a fruteira e a parede
branca, intuir no silêncio respondido
e não
que é já tarde para haver                                                    

que é já tarde para haver,
que mãos demais bateram já no chão
que palavras demais travaram já na língua
e travarão

intuir tanto e de tantas formas
que não haver já não tem importância,
como o resto,
e a laranjeira segue ardendo, dourada.

*

[Sem título]
‘eu sou aquele que sou’

e o chiar dos galhos, crepitar da chuva
é o que é, talvez,
se for. e o centro sempre movente
o centro em todo lugar
também o será,
se for. e o morno de mãos amorosas,
se houver, será também,
se for.

não sou aquele que sou
nem posso ser, e contemplo
extático de brasas
aquele que talvez seja,
se for.


*

[Sem título]
vazios o túmulo de clara pedra
os trapos claros
sob o testemunho da manhã.

ruge na rocha do sepulcro 
a brisa
e anuncia que nada virá
nem ninguém.

***

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