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Marta Cocco 
É natural de Pinhal Grande-RS, formada em Letras, doutora em Letras e Linguística, professora de Literaturas da Língua Portuguesa na graduação e na pós-graduação da UNEMAT-MT. Faz parte do grupo de pesquisa LER: Leitura, literatura e ensino – UNEMAT/CNPq. Ganhadora de vários prêmios literários, já publicou cinco livros de poemas (Divisas, Partido, Meios, Sete Dias e Sábado ou Cantos para um dia só), dois de crítica literária (Regionalismo e identidades: o ensino da literatura produzida em Mato Grosso, Mitocrítica e poesia), um de contos (Não presta pra nada) e, com este, três infantis (Lé e o elefante de lata, Doce de formiga e SaBichões).

UM VELHO TESTAMENTO

Transido de frio
longe das colunas
está o poema
no sujeito
engolindo sapos
pra sobreviver.

Pobre diabo.
Nasceu por linhas tortas
e vai durar incerto
sem deixar
escritura lavrada.

 

 

 

 

 

 

IRRESPONSABILIDADE

Quem semeou
essas flores do asfalto
de fétido cheiro
de fúnebres cores
de miseráveis formas?
Como parafrasear
a parábola do semeador
sugerindo a colheita do desamor?

DRAMA

Não há mais espaço 
para a fome das multidões.
Cercada de ilusões,
alimenta-se do revoltante cotidiano
e vomita miséria nas praças
onde frágeis flores se desesperam
pela ausência de jardins.

 

 


MANDATO

Tecem no escuro
destino 
pra barriga alheia.

Escurecem o tecido
barrigudo
de alheio destinatário.

Embarrigam.
E já não há o que tape
tantos destinados.

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