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Eduardo Mahon

41, é carioca da gema, advogado e escritor. Mora em Cuiabá com a esposa Clarisse Mahon, onde passa sufoco com seus trigêmeos: José Geraldo, João Gabriel e Eduardo Jorge. Autor de livros de poemas, contos e romances, publica pela Editora Carlini e Caniato.  

Nessa hora
Em que todos dormem
Eu espreito a noite.
Tomo conta
Para que o escuro
Não seja infinito
Para que se dê atenção
Ao cometa bêbado
Para que as buzinas
Continuem desfazendo 
O equívoco da solidão extrema

Nessa hora
De naufrágios
Eu sobrevivo
Porque não durmo

Dorme-se à tarde
Porque não há esperança
Porque não há pecado
Porque findo o almoço

Dorme-se à tarde
Porque não há música
Porque não há culpa
Porque faz muito calor

Dorme-se à tarde
Porque não há opção
Dorme-se à tarde
Porque não há poesia
Dorme-se à tarde
Porque não acontece a vida

 


Vivo nas dobras da noite
Enquanto bebem e brigam
Esquecem-se de mim

Ontem passaram
Muitos anjos caídos
Mas não me viram
Nem demônios, nem a lua
Nem os cães, nem a morte

Senti que estava vivo
Porque já ia amanhecer

 


Acorde, meu amor
Levantem-se, meninos
Ande logo, meu pai:
Vencemos a noite 

O sol nos promete outro dia
Porque ninguém morre
Antes do café da manhã 
Dos ovos mexidos
E do queijo de minas

É a hora do ônibus na rua
Da gente sonolenta na padaria
Da troca de guarda nos quartéis
Não há tempo para a dor

Os lençóis serão trocados
As calçadas, varridas
O lixo já foi levado com a noite
Os ladrões estão cansados
Os homicidas dormem bem
Porque a polícia cessou de persegui-los

Daqui a pouco, marcharemos
Bate-se o ponto
Responde-se à chamada
Troca-se o turno

É na manhã que se dá
A primeira contagem dos vivos

© 2019 - Revista Literária Pixé.

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