top of page
Foto - Clark Mangabeira.JPG

Clark Mangabeira
Carioca cuiabano, é doutor em Antropologia Social pelo Museu Nacional/UFRJ e professor adjunto de Antropologia da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT. Graduado em Direito, Letras e Ciências Sociais, é escritor de ficção, tendo publicado contos e poemas em diversas revistas literárias e acadêmicas, e escreve enredos das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. 

Há muito que ele não olhava pela janela, para trás, sem saber se lá era o tal atrás mesmo. 
Talvez fosse a frente de algo que ficou ou as costas daquilo que passou. 
Não fazia a menor ideia.
A vida era assim mesmo, sem frente nem de repente. 
Droga.
Olhou pela fresta e sentiu o mesmo friozinho que dava na barriga antes de abrir os presentes de Natal quando criança. 
E lá - ou cá - estavam, sempre estavam.
Sal do mar no cabelo, ficar meio tonto nas ondas, jabuticabas do pé. 
Correr lá para baixo e jogar bola - tentar ao menos, o perna de pau de sempre. 
Refrigerante dois litros compartilhado no gargalo, doces de Cosme e Damião, hi-fi de fanta uva (só para bancarem os rebeldes, ignorando o clássico de laranja). 
Heróis coloridos, brincadeira do copo e juras de amizades eternas. 
Lágrimas escondidas, beijos roubados no escuro, salão de festas e uma rua como tantas outras que, não sendo, são. 
Olhos verdes, castanhos, pretos. 
Vodka barata, baseado gasto, violão no pé do ouvido, tapete sujo, terraço em obras. 
Uma rachadura no chão, o choro enquanto o corpo descia devagar, costas na parede, pinta de filme da Sessão da Tarde. 
Silêncios altos histéricos. 
E outros tantos singelos. 
Mãos dadas no ano novo, lojas de conveniência 24 horas. 
E 48 de viagem para um sítio no final de semana do fim de ano. 
Noitadas, Lapa e mais nada. 
Nada. 
A janela fechando e a frestinha que só mostrava o que importava. 
Lá no tal atrás. 
Hora de fechá-la porque já tá acabando, quase meia-noite. 
3, 2, 1...
Feliz ano novo. 
Tudo de novo e já fui. 
Ou vai logo! 
Até breve ou tanto faz. 
Outra vez na janela? 
Combinado! 
Como diz a nossa música preferida - só nossa, por direito! - “See you on the other side”.

bottom of page