

Caio Augusto Ribeiro
É ator e diretor inscrito pelo DRT 0000651\MT. Começou os trabalhos como ator em 2009. Autor do livro “Porão da Alma” (clube de autores), Colecionador De Tempestades (Carlini&Caniato) e Manifesto da Manifesta (Carlini&Caniato), diretor do curta-metragem Réqueim Para Flores (2017). Fundador do coletivo de artes hibridas Coma A Fronteira. Atualmente desenvolve trabalhos levando poesias e processos criativos para as escolas e faculdades. Realiza oficinas voltadas para produção poética, arte urbana e teatro. Mas no fundo, prefere passar o dia no jardim olhando folhas e formigas.
RITO PARA INAUGURAR UMA SOLIDÃO
arar um espaço
separar com certeza o que não serve daquilo que será utilizado no instante agora
encaixotar aquilo que não tiver certeza - e arremessar de um abismo.
trabalhar com a dedicação que lhe convir
e tornar este espaço
uma zona
de um tecido antigo
que pode ser a própria pele
ou mesmo cera
inscrever um convite
ou uma convocação
- de acordo com a sua necessidade de formalidade –
pode até ser um bilhete, em último caso.
preparar um copo de suco
ou lágrima
espere por cinco minutos em completo silêncio
e depois mais tantos outros minutos pensando
e depois pesando
e depois prensando
prendando
mas não
pretenda
nada
enderece o convite, bilhete ou convocação
a si
e envie pelo correio.
aguarde o tempo necessário
e não pense muito sobre o que está fazendo.
quando o convite inscrito chegar
vá e
beba de forma simples
sem muito escândalo
aquele suco ou
aquela lágrima
a cerimônia depende de sua vontade
dispense músicos e poetas
não faça nenhum tipo de sarau
esteja sozinho
e ao fim
quando não houver trombetas
cerimoniais e
dispositivos
apenas o som
de grilos
limpando suas asas - ou nem mesmo eles –
está inaugurada
a sua nova solidão.