

Caio Augusto Leite
Nasceu em São Paulo em 1993. Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP). Integrou o Printemps Littéraire Brésilien 2018, na França e na Bélgica, a convite da Universidade Sorbonne. Teve textos publicados nas revistas digitais escamandro, A Bacana, mallarmargens, Vício velho, Lavoura, Subversa, Literatura & Fechadura e Alagunas. É autor dos livros Samba no escuro (Scortecci, 2013), A repetição dos pães (7Letras, 2017), Terra trêmula e Numa janela acesa a noite não entra (Caiaponte, 2020 e 2021), além de colunista da revista digital Ruído Manifesto.
no café em que me acomodara
esperando o amor ou nada
vi quando de olhos atentos
testa franzida ele compunha
algo em uma folha de papel
se fosse um poeta
já o teriam prendido
numa jaula para apreciar
seu método de composição
não sabia o que escrevia
com atenção capaz de
latejar a têmpora
como se não houvesse
tempo para mais palavras
como se a ideia já cansada
de esperar se levantasse
e se pusesse a percorrer
paisagens várias para cair
no colo de outro alguém
então me distraí e perdi
o instante em que saiu
do recinto o escritor
não sei se satisfeito
não sei se indo atrás
do tema fugitivo
quem sabe em algum livro
esteja lá o poema sobre
um rapaz solitário num
café do centro, atento
ao poeta que escrevia
buscando salvação no silêncio
querendo dissolver mágoas
no calor da cafeína