Caio Augusto Leite
Nasceu em São Paulo em 1993. Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP) com dissertação sobre A Paixão segundo G.H., de Clarice Lispector. Integrou o Printemps Littéraire Brésilien 2018, na França e na Bélgica, a convite da Universidade Sorbonne. Teve textos publicados nas revistas digitais escamandro, A Bacana, mallarmargens, Vício velho, Lavoura, Subversa, Literatura & Fechadura e Alagunas É autor dos livros Samba no escuro (Scortecci, 2013), A repetição dos pães (7Letras, 2017) e Terra trêmula (Caiaponte, 2020), além de colunista da revista digital Ruído Manifesto.
contra a pedra esse atrito
ir recebendo dela sua dureza
e eu entregando o que tenho
de granito: esses sentimentos
secos e sem caminho - pela pedra...
passo e resisto, por acaso ela
sobrevive à aridez que compartilho?
nesta cadeira em que me sento
sentam outros
madeira de árvore derrubada
retirada de sua altura...
do topo à raiz
serve ao descanso de quadris
em seu quadrado de pura dureza
ainda assim anseio de caminhantes
recém-chegados
o verniz cobriu teus veios mais antigos
mas a mão pelo sentimento sente
em teus galhos já extintos
os pássaros que ali
cantaram
levanto-me e já não sinto fluir a seiva
mas guardado no oco silêncio
estás ainda ereta e firme
além de podada e subserviente
és um nada a se topar se não te quero
és necessária
quando me canso és cadeira de novo
de repente