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Olga Maria Castrillon-Mendes 
É professora do Curso de Letras da Universidade do Estado de Mato Grosso/UNEMAT, dos Programas de Mestrado Profissional em Linguagem/PROFLETRAS e Colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários/PPGEL/UNEMAT. É Sócia Efetiva do Instituto Histórico e Geográfico de Cáceres e da Academia Mato-Grossense de Letras; Líder do Grupo de Pesquisa “Questões históricas e compreensão da literatura brasileira” (CNPq/UNEMAT/2002). Integra os Grupos: RG Dicke de Estudos em Cultura e Literatura de Mato Grosso (CNPq/UFMT). É autora de Taunay viajante: construção imagética de Mato Grosso (Cuiabá: EdUFMT, 2013) e Discurso de constituição da fronteira (www.unemat.br/publicações/e-book, 2017), além de artigos em periódicos e coletâneas nacionais e internacionais.

ARTE E/OU LITERATURA

Qual a relação entre identidade e arte no contemporâneo? Pelo menos três pontos de convergência podem ser elencados diante do questionamento: os modos de ler literatura, o estado de implosão dos conceitos e a reacomodação (sempre tensa) desses conceitos. 


A aproximação entre identidade e arte é acontecimento histórico-cultural. Ao trazer questões identitárias contemporâneas, a expressão artística emerge no conjunto de variadas representações. A aproximação está, tanto no plano da linguagem (polissêmica), quanto nas teorias estéticas que tentam compreender o híbrido ou o multifacetado, fruto das experiências humanas. Identidade e arte são, portanto, fenômenos transitórios. Assim é possível acessar os códigos das identidades a partir da arte e vice-versa. É um espaço exploratório em constante estado de tensão, pois ao evocar identidades, evocam-se entidades, normalmente geradoras dos preconceitos e estereótipos. Então, é o tempo de novos modos de ler literatura? Estão esvaziados os critérios de autor/obra/estilo/texto/sentido? 


A ruptura pregada pela semana de 1922 se clareia no movimento de uma elite paulistana, conservadora e hegemônica presente até meados do século XX, quando grupos de escritores rompem com os temas e as estrutura sem, contudo, se desvencilharem completamente da tradição. Mário de Andrade compreendeu muito bem esse apego às “teorias-avós” das quais dificilmente no desvencilhamos totalmente. 


Nesse caso, a questão se mantém: houve rompimento entre modernidade e pós-modernidade ou implosão/adoção de conceitos? Parece-me que as discussões atuais apontam para um “novo universo”, reforçando o que Duchamp assevera sobre a força da representação por “meios mistos”. Não há arte puramente visual ou exclusivamente verbal. Muito ao contrário, uma se re-faz com a intervenção da outra. Imagem e palavra funcionam no sistema sígnico de que são revestidas. Com isso, estaria em curso uma mutação daquilo que define o literário no contemporâneo? O campo literário teorizado por Bourdieu, talvez, esteja a requerer cautela de uso. A busca do escritor não seria mais a tradição literária, nem das artes plásticas, tampouco da arte das ruas, mas a junção desses lugares simbólicos num mesmo campo semântico.  


Quando Néstor Canclini defende o hibridismo cultural nos países da América Latina tem em mente o conceito básico no quadro das referencias teóricas da comunicação, da arte e da técnica, cujo centro está no diálogo intra e extra cultural que envolve, principalmente, o erudito, o popular e o de massa. A América Latina é fruto de mesclagem de ordem simbólica que, desde o século XV, concorreram para a formação dos países, numa relação conflituosa tradição/modernidade/pós-modernidade. As culturas são de fronteira e as artes articulam-se para se se ampliarem, como aconteceu com as manifestações de vanguardas do início do século XX e que hoje são revisitadas em experiências radicais. O contemporâneo nas possibilidades da problematização/reacomodação das tradições, ou não.

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