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Anna Maria Ribeiro Costa
É doutora em História pela UFPE e Professora do Univag. Chegou às terras do povo indígena Nambiquara na Primavera de 1982. Dos índios recebeu o nome Alusu, por conta de seus hábitos alimentares. Nessas terras, conheceu José Eduardo, com quem tem dois filhos: Theo e Loyuá. Vem se dedicando aos estudos sobre os povos indígenas de Mato Grosso, com especial atenção ao Nambiquara.

专栏 安娜·玛利亚·里贝罗·科斯塔
安娜·玛利亚·里贝罗·科斯塔(Anna Maria Ribeiro Costa)伯南布哥联邦大学历史博士,瓦尔泽亚大学 (Univag)的教授。1982 年春到达南比夸拉(Nambikwara)印第安人居留地后,就开始研究他们的文化。她也给自己取了一个印第安名字,叫阿鲁苏 (Alusu)。在这片土地上,她遇到了若泽·埃杜阿尔多 (José Eduardo),之后成了她的丈夫,他们共同养育了两个孩子:其奥 (Theo) 和罗雅(Loyuá)。安娜一直致力于研究马托格罗索州印第安土著人民,特别关注南比夸拉人。

HALUHALUNEKISU, A ÁRVORE DO SABER
LÚN YÛ E BAKARU: SABEDORIAS MILENARES

Lún Yǔ e Bakaru. China e Brasil. Shantung-China. Mato Grosso-Brasil. Países que se entrelaçam em sabedorias milenares. Lún Yǔ com os diálogos de Confúcio, nascido entre os anos de 551 a.C. e 479 a.C. Bakaru com os fundamentos da vida do povo indígena Boe-Bororo, morador de aldeias que se dividem em duas metades: Tugarege, ao sul, e Ecerae, ao norte. Vivente em Terras localizadas em ecossistemas distintos, onde estão abrigados os Bóku Mogorége (habitantes do cerrado), Itúra Mogorége (habitantes das matas), Orari Mogodóge (habitantes das plagas do peixe pintado), Tóri Ókua Mogorége (habitantes dos sopés da Serra de São Jerônimo), Útugo Kúri Dóge (os que usam longas flechas) ou Kado Mogorége (habitantes dos taquaris). 
Lún Yǔ, acolhedor do pensamento de Confúcio, conhecido por “ensinamento dos sábios”, põe em relevo a moralidade pessoal e governamental, os procedimentos corretos nas relações sociais, a justiça e a sinceridade. Sustentáculo de antigas tradições chinesas, é regido por um sistema moral, social, político, religioso e educativo.
Bakaru transporta a história do povo Boe-Bororo, os fundamentos e códigos postulados do conhecimento indígena referente às relações entre homens, seres espirituais e a natureza. Resguarda tradições milenares, transmitidas de geração a geração, constituídas inicialmente por narrativas orais a transportar seus modos de ser, sentir e pensar.
Lún Yǔ e Bakaru reverenciam seus ancestrais. São guardiões de códigos de conduta, constituintes de um vasto compêndio de saberes sobre como viver em harmonia, onde todos possuem habilidades para modificar os meios e os fins de sua existência em prol da coletividade, do bem comum. A todo instante, devem se fazer existentes em suas ações e pensamentos.
Assim como a benevolência está para Lún Yǔ, a generosidade está para Bakaru. Termos centrais que perpassam os “ensinamentos dos sábios”, exaltam a benevolência, qualidade moral mais importante que um homem pode possuir; boa vontade para com alguém; atitude de reciprocidade que deve prevalecer entre chineses e Boe-Bororo. Benevolência e generosidade: completação de vocábulos. 
Lún Yǔ e Bakaru, lições canônicas, expressam elementos culturais que ressaltam valores e virtudes que precisam estar em vivências atentas ao bem-estar da coletividade. Ambos são fundantes no mandato de cosmopercepções, isto é, nos preceitos do visível e do invisível que conduzem o homem, que devem usar a si como medida ao objetivo de se tornar tão bom quanto possível. 
Contudo, se as lições de Lún Yǔ causaram intenso impacto na vida chinesa e demais culturas asiáticas, não se pode dizer o mesmo de Bakaru. Ainda que se manifestem com vigor no cotidiano aldeão, em práticas profanas e sagradas, seus dogmas encontram-se restritos ao povo Boe-Bororo, não alcançando a compreensão de uma imensa maioria de não indígenas que habita o território brasileiro. Para além de suas Terras Indígenas, o povo Boe-Bororo e sua sabedoria são ainda desconhecidos, assim como tantas outras etnias indígenas. O prolongamento ininterrupto da supremacia dos padrões econômicos, sociais, culturais e políticos está em curso há centenas de anos, impondo aos povos indígenas uma condição de subalternização. Espelho do cânone monocultural, desconsidera outros saberes, contributos ao bem viver; impede a prática de outras possibilidades de repensar o mundo. Os horrores do colonialismo continuam postulados de maneiras fundamentalmente incognoscíveis, na mais torpe disputa por pilhagem de terras de ocupação tradicional e de riquezas naturais, até mesmo a água de seus lagos, córregos, rios, cachoeiras.
Na revitalização da tradição, como Lún Yǔ, Bakaru, essencial à manutenção da harmonia da sociedade Boe-Bororo, responsabiliza-se por orientar e mediar suas práticas, expressadas em novas estratégias de convívio, ressignificando seu conhecimento ou prática resultante da transmissão oral ou de hábitos inveterados. Lún Yǔ trilha o caminho superior. E, por ele, o princípio do equilíbrio da vida que deve cumprir determinações do céu e da terra. Aparentemente opostos, vê-se simetria e espelhamento entre os duplos. Lún Yǔ e Bakaru estão presentes em preceitos milenares, registrados em belas palavras, onde o outro se acha no outro que está fora de si para exaltar o virtuosismo: a benevolência e a generosidade.

《论语》和巴卡茹 (BAKARU):千年的智慧

《论语》和巴卡茹 (Bakaru),中国和巴西,中国的山东和巴西的马托格罗索,古老的智慧交汇在一起。《论语》是孔子与其弟子的语录文集,诞生于公元前 551年至前479 年。巴卡茹 (Bakaru)以博洛洛 (Boe-Bororo)印第安土著人民的生活为基础。他们分别生活在村庄的两头:南边的是Tugarege,北边的是Ecerae。他们生活在不同的生态系统中,有Bóku Mogorége(塞拉多稀树草原的居民)、Itúra Mogorége(森林的居民)、Orari Mogodóge(鱼岸的居民)、Tóri Ókua Mogorége(圣热罗尼莫山脚下的居民)、Útugo Kúri Dóge(使用长箭的人)或 Kado Mogorége(塔瓜里斯的居民)。
《论语》是孔子的思想结晶,它被称为“智慧的传承”,强调“仁、义、礼”,也就是外在的约束和内在的修养。是中国古代传统的支撑,受道德、社会、政治、宗教和教育体系的约束。
巴卡茹 (Bakaru)以博洛洛 (Boe-Bororo)印第安人的历史和知识为基础,探索人、精神与自然之间的关系。这些历史悠久的千年传统,以口口相传的形式世代相传,体现了这个民族的存在方式、感觉方式和思维方式。
《论语》和巴卡茹 (Bakaru)都非常敬重先辈。它们都是行为准则的守护者,向我们讲述了与大自然和谐共处的秘诀,每个人都有能力改变自己,使自己符合集体或社会的道德规范。任何时候,大家都必须规范自己的行为。
仁之于《论语》,正如慷慨之于巴卡茹。《论语》颂扬仁德、对他人的善意,这是一个人最重要的道德品质。中国人和博洛洛 (Boe-Bororo)人都非常欣赏互利互惠的态度。仁德与慷慨:言辞圆满。
《论语》和 巴卡茹 (Bakaru)都是非常经典的思想,它们表达了对价值观和美德的重视,这对社区是非常重要的。它们都在引导着大家在世界中感知自己的使命,也就是说,都在引导人类尊重可见和不可见的规则。为了变得更好,人类必须规范自己的行为准则。
如果说《论语》的思想对中国人的生活和其他亚洲文化产生了强烈的影响,那么巴卡茹 (Bakaru)的影响就没那么广泛了。虽然在日常的乡村生活、世俗和神圣的习俗中都能看到巴卡茹文化的影子,但这仅限于博洛洛 (Boe-Bororo)土著人中,并没有传播开来,并未得到巴西领土上绝大多数非土著人民的理解。我们对博洛洛人 (Boe-Bororo)和他们的智慧仍然有许多未知,对其他印第安土著民族也是如此。经济、社会、文化和政治标准至高无上,这种状况已经持续了几百年,使得印第安土著人民一直处于被动的弱势地位。单一文化是一面正典之镜,无视其他智慧对美好生活的贡献,也阻碍我们重新思考世界的其他可能性。殖民主义的恐怖继续以不可觉察的方式存在着。在最卑鄙的争论中,它在掠夺原来被传统占领的土地,也在掠夺大自然的财富,掠夺湖泊、溪流、河流、瀑布的水。
传统文化复兴的过程中,像《论语》一样,巴卡茹对维持博洛洛 (Boe-Bororo)社会的和谐至关重要。它可以指导当地人民的生活,让他们与自己和解,通过口口相传或者固定的生活习惯等方式表达出来,再对它赋予新的意义。而《论语》则走得更高。生命的平衡,就是与天地自然法则的平衡。这看似相反,但正如生命的对称和镜像。《论语》和巴卡茹 (Bakaru)都是千年的智慧,它们通过优美的文字被记录下来,表达了人性中的仁德和慷慨。 
 

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