

André Siqueira
É poeta residente em Jacareí, interior de São Paulo. Já publicou poemas em várias antologias, revistas, jornais e sites de literatura. Publicou de forma independente dois livretos intitulados “Quase Ontem” e “As manhãs fechadas”. Cursou a faculdade de Letras, porém sem concluir e atualmente faz Pedagogia, além de participar de eventos literários, oficinas de poesia e demais trabalhos.
MÃO TRÊMULAS NO APARTAMENTO 130
Posso me encarar de outra forma.
Saber que sumo quando quiser. Suculência de camada
penetra cara a cara no desvelo com
a dormideira. Tô túmida pra evaporar no
cerúleo algures, entrever
as parábolas, devoção
entrementes descasco a face.
Você andaluza não entende.
Saí como de costume pra caminhar, carola,
suei e penso: por que a varejeira da
alma me rotula? Ganas de me embalar
numa venda, mercearia provinciana.
Leves dores. Menstruada.
Tiraram aquela foto eu com a boca cheia,
salgados num corcel nos cerros, os
coruchéus, tá ouvindo espanhola? Palpitam
a aura de frescor assentado no
pirilampo da curva de mim. Na minha idade espuma
um riso de vaidade.
Visto a legging cafona. Meu tênis
esportivo. Passagens bíblicas. O alcantil
ameiga a missiva levada discreta pelos
firmamentos arregalando os olhos vendo
a galé consternada, soerguida.
A cotovia descrida adentra no horizonte
e sua azaléia retumba no lusco-fusco feral.
Dir-se-ia que...
Caminho, caminhada e da última vez você
não estava. Fui poupada de suas mentiras
desnudas ao pastor. Flacidez de tudo, amiga...
Ceramidas force a melhor coisa do episódio inscrito
nessas colunas gastas. Sabonete líquido.
Sou uma estranha com cacos de vidro no pé.
Um arroz grudento.
ELA PENSAVA QUE A PESSOA É OBRIGADA A SER FELIZ
Me embriago de café nesta tarde
sem Madama Butterfly,
quem sabe um sumi-ê.
Não.
Uma epifania buliçosa pela
cozinha, indícios de salvação.
Não.
Já é hora (falta pouco) para o jantar
então pego alface, tomate. Despedaçá-los.
Eis que encaro:
escarlate do fruto ou de meu
retesado sangue?
Esclareço:
corte no médio canhoto.
Ensaiar a fusão do mato mais vulgar
com a sinfonia (compô-la) da
amada, estalactite que quer submergir
no espírito com raízes da
natura perdida da felicidade.
No banho abro o registro. Choque
no corte mas a vida não
acorda só dormita estranha
perdendo tempo absorta e inútil.
Me embriago de mim mesmo
alcaloide à deriva
de furor trespassado pelo café
amargo que adentra
- escureza que desce nesta
caverna domesticada dando à
luz tolerâncias pantanosas na
plateia de uma ópera naufragada
em meio ao pânico do nada
pode ser feito.
Somente suportar a ração que
passa debaixo da lucidez inflamada.