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André Alvez
Nasceu em Campo Grande-MS. Formado em Comunicação Social, Publicidade e Propaganda pela UNISA-SP, é cronista do caderno B do jornal Correio do Estado, desde 2008. É autor das seguintes obras literárias: “No Pantanal não existe pinguim” - Editora Agbook - São Paulo, 2011; ”O santo de cicatriz” - Editora Life - Campo Grande-MS, 2013; “Crônicas da cidade” - Chiado Editora - Lisboa 2016 e “A Bruxa da Sapolândia” - Chiado Editora - Lisboa 2017. É também autor de diversos textos para o teatro, no qual atua na direção, além de participar como ator em diversas peças teatrais. Colunista do blog literário “Digestivo Cultural”.

UM CONTO DE BICHOS

De repente a floresta ardeu em chamas.


Os bichos, aturdidos, não sabiam o que fazer.


Em meio à áspera nuvem de fumaça, surgiu um belo passarinho carregando um pouco de água no bico. Corajosamente sobrevoou o foco do incêndio e lá atirou as míseras gotas de água que conseguiu ajuntar.


O macaco sorriu, apontou para o passarinho: “sai daí bicho estúpido, você jamais conseguirá apagar o incêndio”.

 

O passarinho, que sabia falar a língua dos macacos, respondeu: “sei que não apagarei o incêndio, mas estou fazendo a minha parte”.


Os outros bichos se entreolharam, surpresos.


Deu-se um ameaçador silêncio, nem mesmo as hienas foram capazes de sorrir.


O rei Leão resolveu agir, fazer valer sua liderança, ordenou que o elefante enchesse a tromba de água e ajudasse o corajoso passarinho.


Um tanto contrariado, resmungando que outros poderiam ajudar de alguma forma, o elefante caminhou até o rio e encheu o quanto pode de água a tromba.


O leão pensou dar ordens ao jacaré, um pensamento corrido, talvez com uma boca tão grande, poderia enchê-la de água e ajudar o elefante e o corajoso passarinho.


Mas o jacaré fechou os olhos e mergulhou na água profunda. Ali estava livre do perigo das chamas e disso sabia muito bem.

 

O fogo aumentou, o passarinho continuou fazendo sua parte enquanto o elefante desistiu na terceira tentativa. Quando os bichos esperavam pelo pior e o calor das chamas já chamuscava todos os pelos, detrás do sol partiu uma imensa nuvem negra de chuva.

 

E o temporal desabou em poucos minutos, apagando o incêndio.


Depois de horas, o incêndio já não existia, apenas o cheiro de queimado insistia a pairar pelo ar.


Assim que tudo se acalmou, entre lágrimas incessantes, a raposa trouxe entre suas patas o corpo ainda fumegante do passarinho.
O leão se aproximou, fez um gesto de carinho na cabeça do passarinho e logo depois o devorou.


“Nunca confiei nas raposas.” Pensou entre dois arrotos com gosto de carne explodindo. Depois estalou os dedos:
- Não existe nada mais gostoso do que passarinho assado”.


E a vida voltou ao normal na floresta.

© 2019 - Revista Literária Pixé.

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