Ana Maria Bernardelli
É natural do estado de São Paulo. Professora. Poeta. Ensaísta. Graduada em Letras. Professora de Língua e Literatura brasileira e Portuguesa. Professora de Língua e Literatura Francesa. Musicista. Autora de Poemas gota a gota e Na Trilha das Formigas. Ensaios publicados em vários jornais e revistas do MS. Recentemente eleita para a Academia Sul-Mato-Grossense de Letras.
DESFORRA
O pássaro acordou cedo.
Sobrevoou o mar.
Viu as ondas beijando a praia.
Sentiu ciúme.
Em voo rasante, mergulhou nas salgadas águas.
Ao emergir, trazia no bico o coração do mar!
DA SOLIDÃO
o ar seco da estiagem envelhecia as folhagens
uma a uma as folhas caíam
carregando consigo as flores murchas
triste era a queda das pétalas em agonia
sobre o pó da estrada esquálida, descarnada,
o estio aspirava à primavera
riam de seu sonho fantasioso
foi então que do céu um espectro branco
atravessou os ares
e de cântaros de barro jorrou água clara e fria
fez-se silêncio depois da tempestade
acalmou-se a ventania
a solidão instalou-se
apagaram-se as estrelas
e os desertos tornaram-se infinitos!
AS ANTÍTESES VIVIDAS
por muito tempo
o limbo era meu habitat
vivia entre o que partia e chegava
perdido de mim,
dormia as noites dos outros
sonhava os sonhos dos outros
comandava os invisíveis
cuja nudez só eu entrevia
como do rei a sórdida história
amor e ódio pouco discernia
oprimido por não sei quem
por incertezas liberto
o que sabia de mim?
nada!
meu corpo era meu destino
o espírito há muito me deixara
minha anatomia era meu mundo
minha história, a pele que me cobria