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Alexandre Pilati 
Nasceu em Brasília - DF em 1976. É poeta e professor de Literatura Brasileira na Universidade de Brasília UnB. Publicou quatro livros de poemas: sqs 120m2 com dce (NTC, 2004); prafóra (7Letras, 2007); e outros nem tanto assim (7Letras, 2015) e Autofonia (Penalux, 2018).

[CARACOL]

livros que li

esta casca
de peles e palavras

esta casa
de danças e dilema
que me fiz

patuá de afetos
que me protege 
por dentro de mim


[RÉQUIEM PEQUENO]

à janela
impassível arrepio
olho o jardim feito o vidro
os olhos
bem abertos 
à bela imagem do desamparo
a flor
pétala dormente
aponta os pés para o zênite
só eu
sou capaz
de guardar essa flor aqui dentro
jardim outro
não há onde caiba
a eternidade que se eletriza no perecer


[BATE OUTRA VEZ]

ei pombos de aço
de pedra que habitam
elétricos dentro do meu peito

aquietem-se acalmem-se
esta gaiola de carne e pejo
prende-os e todavia os ama

juntos vamos ao fim do caminho:
é certo é justo eu quero e eu preciso - 
sem estes arrulhos sou uma coisa sem revolta

mas não vistam tantas patas de cavalo
não cisquem não sapateiem tanto
assim as cãs do meu coração

prestem atenção neste corpo
de pinho que vem agora ao meu socorro
sintam este abraço de calma

em que me segura o violão
com que disfarço o desespero
em que me abrigo do tempo

não pesem tanto
não bulham: “é pau, é pedra,
é o fim do caminho”

é apenas outra espessa promessa
de vida leve pra quem sente
saudade de ser apenas passarinho.
não pesem tanto
não bulham: “é pau, é pedra,
é o fim do caminho”

é apenas outra espessa promessa
de vida leve pra quem sente
saudade de ser apenas passarinho.

 
 
[PALMA]

o que está tão longe daqui e
que dentro está espaço real
incluso o que aqui tenho e esqueço

não serve na largura humana 
da mão pequena queimada do sol
covarde que fiz pequena imprática

entre dedos êxito algum entra grande

a não ser que seja feito grão seco
míope rígido doído selvagem
ponto apenas olho cego e resto

o mundo não se dá não desce
goela abaixo não cabe no molde
do modelo humano de um corpo

ao ser mindinho é que dá conta
do tudo tecido do substrato econômico
que mora tão longe no arco de uma órbita

o poema, flor feita, abraça a estratosfera
ensina no silêncio o que ela beija do sistema

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