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Agnaldo Lima 

É mestre em Letras pela Universidade do Estado de Mato Grosso (Profletras – Unemat). Especialista em Língua Portuguesa e Literatura. Mora em Alta Floresta, MT onde é professor – Publicou seu primeiro livro “Vidas: 60 microcontos para viagem” pela Carline & Caniato Editorial (2020). Colabora com a Revista Literária Pixé.

VERSOS DE AMOR E DES/ENCONTROS EM ALDRAVA DE EDSON FLÁVIO SANTOS

Aldrava (2020) de Edson Flávio Santos é explicitamente convite. Chamado a conhecer um lar/mundo decorado em pétalas de poesia. À medida que tocamos a aldrava e adentramos a porta/página/livro, ligeiramente somos tocados por um turbilhão de sentimentos amorosos que o eu lírico transborda nesta obra. A primeira parte, denominada de antessala e vestíbulo é organizada de uma forma singular. Nas paredes há imagens poéticas capazes de arrebatar nosso desejo de vasculhar cada cantinho deste labirinto poético. A tessitura de seus versos é diferente e convida o leitor há passar o dia inteiro. Descobrir os enigmas que ocorrem entre (seis e meia noite). Sim! Há um sofrimento amoroso subjacente. Há uma inquietação de respostas que se aguardam em solidão - é tão longe o lugar onde minha alma repousa/qual águia que se refugia nas alturas e sucumbe aos poucos/diante da solidão do abismo (p.10).


(...) 
até quando
oh sofreguidão desmedida
oh vida! oh vida. (p. 12).

No segundo momento, desenhado como ‘alcova e quarto de dormir’ há uma extensão das imagens poéticas já impressas nas paredes da antessala. Neste espaço de intimidades secretas o eu poético trava uma batalha emocional entre o querer e as possibilidades de suas posses – das posses humanas. O tempo marcado pelas regras impostas na maturidade e no envelhecer abre todas as feridas e o itinerário de todas as dores (...) quero tanto/quero tudo/quero logo/quero cheio/intenso/voraz/total (p. 41). Cogita-se uma leve pressa em juntar os cacos do tempo diluído, mas no fundo quer mesmo um instante/ambiente para respirar. E a alma transcende o corpo levando-o a travar uma luta com seus versos que parecem que não vem. E eles chegam trazendo o ar que precisa para respirar e chegar à sacada (...) l e v a n t o,/abro os olhos/abro a boca/e engulo a dor./... que a  i n d a d ó i. (p. 23). Ali na alcova, as dores oferecem flores para a resignação.


(...)
voo só
       corro
v i v o,
e me (re)ivento
s
ó.  (p. 23).


O eu lírico parece não clamar tão somente por amor. Evidencia também outros socos que levamos além do estômago e nos faz sentir “r a i v a muita, r a i v a” (p. 22). Embora, não seja propósito, há submerso em seus versos, um grito latente por igualdade social neste universo humano de tantos quebra-cabeças. Ao tocarmos a aldrava deste labirinto/casa de poesias, não há como não mergulhar os pensamentos nesta intensa e atual dicotomia que vivemos (...) nos dias de hoje cabeças rolam/quando pensam (p. 32).  


Da sacada, terceira parte, mira-se o horizonte e brotam questões que direcionam o olhar à busca da compreensão da vida.  Lacunas permeadas por inquietudes, descobertas e dores que marcam a relação de duas fases conflituosa entre o menino e o ser adulto. Sim, percebem-se dores - “um tanto de dor pra viver/tudo/tudo/dói” (p. 59). Neste espaço, seus versos entrelaçados aos versos de Eduardo Mahon, nos leva a encontrar nuances à resiliências e des/compreensão aos di/sabores da vida. Se mesmo sozinho, os versos tentam fugir, resiste-se pelos abraços da literatura que dura a vida/letra viva/avivalma. (p. 54).


Aldrava é isto... Lugar onde se encontram amantes, solitários e apaixonados pela vida. É viagem que se faz mais de uma vez. Lugar de re/descobertas de nós mesmos. Como justifica Michele Pettit (2008) o autor inclina-se sobre nós, toca-nos de leve com suas palavras e, de quando em quando, uma lembrança escondida se manifesta, uma sensação ou um sentimento que não saberíamos expressar revela-se com uma nitidez surpreendente. Por isso esta visita é indispensável e o retorno inevitável.

 

REFERÊNCIAS


PETIT, Michéle. Os jovens e a leitura: uma nova perspectiva. Editora 34, São Paulo, 2008.
SANTOS, Edson Flávio. Aldrava. 1 ª Edição. Cuiabá-MT: Carlini & Caniato Editorial, 2020.

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