

Aclyse Mattos
É escritor, poeta e professor da Faculdade de Comunicação e Artes da UFMT. Livros publicados: Motosblim: a incrível enfermaria de bicicletas (infantil – 2019) O sexofonista (contos - 2018), Sabiapoca – Canção do Exílio sem Sair de Casa (infantil – 2018), Festa (poesia – 2012), Quem muito olha a lua fica louco (poesia – 2000).
flor
cai
tão curto
o espetáculo do ipê
alguns dias
chuva roxa
sob o sol dos aromas
de novo
só no ano que vem
[de Quem muito olha a lua fica louco, Oficina mínima, outono do ano 2000 – p. 55]
NOSSA SENHORA DE IRIGARAY
Mais índia do que branca
renascida da sucata
meio busto de maneca
falta o braço e mais a anca
trapos, gaze, saco, helanca,
muita graxa em que lambreca
traços, guaxe, óleos, preta,
negra azul vermelha e manca
sob a luz – olhar libélula –
da calota fez-se a auréola
fada maga bi traveca
viva e morta é lixo e santa
[de Festa, Carlini & Caniato, 2012 – p. 39]
ÉDIPO PREGUIÇOSO
Nada é tão mãe
( depois da mãe )
do que a sombra da mangueira.
[de Quem muito olha a lua fica louco, Oficina mínima, outono do ano 2000 – p. 76]
UTIARITI
palavra cheia de t
palavra cheia de i
palavra que prende o ar
palavra além do tupi
no claro ruído das águas
nas corredeiras, cascatas
dos indiozinhos que pulam
do pontilhão ou das grades
do rio dos Papagaios
os tês dos tis como ramos
(metáforas letras da mata)
de onde se pula no rio
do u da letra ou cascata
os is dos tis como gente
(a gente índia, outra letra)
os is com pingos lugares:
cabeças penas cocares
a ti ar ti arte ti
de natural da cultura
ter águas doces doçura
Reserva de Utiariti
este poema é em ti
[de Festa, Carlini & Caniato, 2012 – p. 35]