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Marília Beatriz de Figueiredo Leite

É professora fundadora da UFMT, adjunta nível IV; mestre em Comunicação e Semiótica, pela PUC-SP. Ocupa a cadeira nº 2 da Academia Mato-grossense de Letras. Publicou O mágico e o olho que vê (Edufmt, 1982) e De(Sign)Ação: arquigrafia do prazer (Annablume, 1993) e Viver de Véspera (Carlini e Caniato, 2018).

RESENHA LITERÁRIA

O título “A GENTE ERA OBRIGADA A SER FELIZ” é o signo indicial do romance. Aponta para duas oposições era obrigado e ser feliz. Tal aproximação parece curiosa e surpreendente. Existe o lance dentro de uma circularidade em que TEXTO E REALIDADE se fundem, sem se confundirem.


Nesta estrutura recíproca e original há o vislumbre do instalar de um esforço e um fazer criativo e singular.


O pano de fundo deste livro é a ditadura militar instaurada, que ressoa em todo o território nacional e espoca nas grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. E o espaço carioca é a cena em que tudo acontece (locus do era obrigado) .


Na favela nasce o personagem Aurélio Espírito Santo (eis um batismo incoerente proposital ou inconsciente) que é aquele que deve ser feliz. Eis aí a centralização das forças e o núcleo do círculo opositivo.


A escritura romanesca de Mahon mostra mais uma vez a força, a disponibilidade de desabrochar e permanecer, de estabelecer um viver no mundo, na dependência de um outro: o leitor.


Os diálogos de Espírito Santo com os cavalos (também com nomes “exóticos”) conduzem à constatação da base antropomórfica, que lança no espírito a solidão do personagem.


Entre o alto e o baixo, entre a cidade e a favela, entre o rápido raciocínio e a lerda ação vai o romance trilhando seu caminho intertextual.


A obra A GENTE ERA OBRIGADA A SER FELIZ é um resumo dos homens que lutam no anonimato e um fragmento da memória histórica. O personagem acentua sua solidão com uma conduta impecável de fidelidade e afeto tanto aos amigos em silêncio como especialmente nas longas conversas e conselhos com os equinos.


O trato do obrigado e do ser feliz sinaliza a força do escrevente/artista/coletor da humanidade entristecida. Impositivo lembrar o crítico e ficcionista Severo Sarduy: “a literatura é uma arte de tatuagem: inscreve, cifra na amorfa realidade da linguagem informativa os verdadeiros signos da significação”.

© 2019 - Revista Literária Pixé.

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